
O Sporting, no fim do jogo, elogiou o seu guarda-redes como o homem do jogo. Se tivesse de resumir o que se passou em campo a uma frase isto bastava. Mas acrescentemos mais alguns detalhes à análise: o Benfica foi claramente superior a um adversário que veio deliberadamente jogar à equipa pequena (há muito que não me lembro de jogar contra um Sporting tão fraco que, na recta final do jogo, cheio de medo, chutava bolas sem nexo para o nosso meio campo defensivo só para a afastar do seu meio campo), mas não deixou de ter um jogo pastelão, sem grandes ideias, muito por culpa da utilização de Ferreyra, que não conseguiu ainda encaixar na equipa (muitas saudades de Jonas e até de Castillo pelo que já mostrou), e de Rafa, que conseguiu ser ainda pior do que o Zivkovic contra o PAOK a fazer o lugar de Salvio (que saudades do extremo argentino que, a jogar o seu melhor futebol em muitos anos, passou de uma indisposição para uma lesão vá-se lá tentar perceber como).
O árbitro, esse, foi uma vergonha. Sem tomar nenhuma decisão escandalosa a favor do adversário (a penalidade foi bem marcada após entrada faltosa de Rúben Dias), mas sistematicamente não assinalando faltas a nosso favor; permitindo ao adversário, via uma passividade disciplinar presente logo nos primeiros minutos, praticar um jogo agressivo; e assinalando faltas sem nexo contra nós ou transformando cantos a nosso favor em pontapés de baliza a favor do adversário. Teve até a desfaçatez, logo após o golo de penalidade do adversário, de perder 2/3 minutos a resolver “problemas tecnológicos” o que foi óptimo para cortar a pica do Benfica que tinha de ir para cima do adversário em busca do empate. Enfim, um árbitro digno dos tempos do Apito Dourado.
Mas não façamos do árbitro o responsável único, nem máximo, para o nosso empate. Rui Vitória acentuou a tendência para não ganhar a equipas grandes e esse é um pormenor a que não dá para fugir (ainda que contra o Sporting também só tenha uma derrota para duas vitórias em sete jogos no campeonato). Esteve a poucos minutos de perder pela segunda vez em casa contra uma equipa inferior montadas por José Peseiro, um treinador mediano. Do jogo de ontem, tendo em conta o nosso caudal ofensivo e as defesas do Salin, podia até considerar que não o ganhamos por azar, mas quando o “azar” passa a ser sistemático, é evidente e necessário reconhecer que há mais qualquer coisa que não está a bater bem. A forma como alguns jogadores do Benfica, sobretudo à esquerda, com Cervi e Grimaldo, ganharam a linha para depois olharem para a área e não terem ninguém a quem passar a bola, mostra-o (já contra o PAOK, Cervi fez vários cruzamentos sem nexo). A nossa dificuldade em criar jogo quando o adversário pressiona a nossa saída com a bola no nosso meio campo defensivo, idem. O já mencionado Ferreyra não tem sido sinónimo de golos e o único golo que marcou até agora não resultou de qualquer trabalho colectivo. Continuamos a parecer o Benfica do final da época passada que quando ficou sem Jonas, ficou sem fio de jogo e sem golos. Ferreyra tem estado tantos furos abaixo daquilo que se esperava dele que ontem quando foi substituído por Seferovic, não achei uma má substituição (acho que isto diz tudo).
Mas, também, não caiamos na depressão e pintemos um quadro absolutamente negro onde nada está bem. Algumas coisas dão esperança para o futuro: Gedson continua a afirmar-se como grande jogador jogo após jogo e João Félix, que entrou novamente a 15 minutos do fim para substituir o desgastado Pizzi, mostrou todo o seu talento com um belo golo que garantiu um empate num jogo que não merecíamos, de todo, perder. Com o caudal ofensivo que o Benfica, apesar de tudo, tem mostrado, se Jonas regressar em forma e/ou Castillo confirmar os pormenores e qualidades que já evidenciou, estou certo que a nossa eficiência na frente melhorará muito e contra equipas inferiores como o PAOK e o Sporting passaremos a ganhar com tranquilidade, invés deste sofrimento que nos garantiu dois empates seguidos em jogos que devíamos de ter ganho. Deixem-me ter esperança.
E, para não perder a esperança, nem comprometer esta época, é ganhar já o próximo jogo contra o PAOK. Nesse jogo, Rui Vitória decide o seu futuro imediato. Se quer manter-se como treinador do Benfica, tem de mostrar que tem capacidade para tal. Repito o que escrevi a 14 de Julho, quando defini a bitola inicial de exigência para com o actual técnico do Benfica: «Se falhar, pois é de certeza o fim do seu ciclo (e para falhar basta não entrar na UCL)». A pressão está do lado dele, conseguirá lidar com ela?
RSS