
Domingo | 3 Fevereiro 2019 | 17h30
Estádio José Alvalade
Artur Soares Dias (POR)
JORNADA 20

89′ Bas Dost (P)
-
11′ Seferović
36′ J. Félix
47′ R. Dias
73′ Pizzi (P)


40 Renan
76 B. Gaspar
4 S. Coates
6 A. Pinto
5 Jefferson
86 N. Gudelj
37 Wendel
8 B. Fernandes
21 Raphinha
17 Nani
28 Bas Dost
Vlachodimos 99
A. Almeida 34
R. Dias 6
Jardel 33
A. Grimaldo 3
Samaris 22
Gabriel 8
Pizzi 21
Rafa 27
J. Félix 79
Seferović 14


Assistimos ontem a um dos melhores derbies de Lisboa do século e por isso um jogo que ficará para a História, sendo que para os Benfiquistas será uma partida lembrada, com certeza. O Estádio José Alvalade esteve quase todo ele ocupado, com 45 mil adeptos, sendo naturalmente a maioria representada pelos da casa, mas não foi por isso que os visitantes não se fizeram ouvir ou não apoiaram a equipa. O Benfica foi muito bem representado dentro e fora das quatro linhas e isso é outro argumento para que o jogo não seja esquecido pelos encarnados. Sim, o resultado foi fantástico e só por aí é motivo mais que suficiente; mas podia ter sido mais volumoso, ao ponto de poder dizer que foi um daqueles encontros onde o Benfica venceu na casa do rival de forma categórica por 2-4, mas os adeptos saíram chateados por ter sido precisamente apenas e só esse o marcador final. Queriam mais porque o Benfica mostrou capacidade para mais; queriam mais porque o jogo tomou proporções para ter havido mais. Uma vitória inteiramente justa com todo o mérito do Benfica que se tem requalificado desde que Bruno Lage tomou as rédeas da equipa principal.
As duas formações entraram bem no jogo, com intensidade e sem medo de pegar no jogo e tentar controlá-lo. O Sporting tinha Acuña e Mathieu como principais ausências, e o Benfica Fejsa e Jonas. Todos jogadores importantes para Sporting e Benfica, mas foram os Leões que sentiram mais falta dos seus. Tanto foi assim que apesar da vontade de ambas em assumir o jogo, o Sporting apresentou muitas debilidades defensivas e o Benfica esteve sempre seguro nesse setor, já para não falar da excelente capacidade ofensiva em concretizar as oportunidades.
Oportunidades essas que começaram aos 11’ com Gabriel a descobrir Grimaldo na esquerda e sem que Bruno Gaspar acompanhasse a corrida do espanhol, este centrou de primeira para Seferović que sem oposição e com Coates a apenas seguir com os olhos, fez o primeiro da tarde. Renan ficou pregado ao chão.
O Benfica criava perigo na baliza do adversário, e ao minuto 21 podia até ter feito o segundo golo. João Félix passou para Seferović e o camisola 14 cruzou rasteiro, mas com demasiada força, não chegando à bola Rafa. No minuto seguinte Pizzi recuperou uma bola no meio-campo do Sporting e deu a João Félix que tirou André Pinto da frente e com o pé esquerdo colocou a bola bem no cantinho inferior da baliza de Renan. Grande festa nas bancadas e João Félix marcava novamente aos eternos rivais, mas por pouco tempo, visto que o golo acabaria por ser corretamente invalidado pelo VAR por falta de João Félix na tal recuperação de bola. Uma pena porque seria um golo memorável para o jovem jogador, mas a verdade desportiva e a justiça têm de vir em primeiro lugar.
Todavia, o Benfica não se deixou afetar negativamente pelo golo anulado, muito pelo contrário, e prova disso foi a sequência desse lance, onde Gabriel com um passe longo magistral deixou Seferović sozinho e com João Félix totalmente desmarcado ao seu lado preferiu rematar. Renan parou o remate e as ambições do Benfica em aumentar a vantagem. A personalidade matadora e até gananciosa de um ponta-de-lança falou mais alto, já que o suíço poderia e deveria ter optado pela solução mais simples e oferecido o golo ao companheiro.
Aos 28’ aconteceu um dos momentos marcantes da partida, não por ter sido um golo, expulsão ou confrontos físicos, mas pelo episódio entre Bruno Fernandes e Pizzi se desentenderam por culpa da decisão de Artur Soares Dias em amarelar ‘Seba’ Coates. O ex-Sampdoria queixou-se de falta imediatamente antes da que foi feita pelo central da sua equipa, e Pizzi, não concordando, pediu ao médio criativo do Sporting para estar calado porque não tinha razão.
Após este momento, a equipa que voltou a ter as reais ocasiões de golo foi o Benfica, com uma aos 33’ após cabeceamento de Pizzi por cima; e outra aos 35’ também com Pizzi em destaque, onde passou por vários adversários dentro da área adversária, mas sem conseguir finalizar. Após tantas insistências, lá veio o segundo golo e por João Félix, desta vez validado. Pizzi descobriu o colega de equipa com mais um dos seus passes e este com qualidade bateu Renan. André Pinto mal na figura pelo posicionamento em campo.
O Sporting não iria para os balneários sem antes fazer o gosto ao pé, e mesmo contra a corrente do jogo, conseguiu diminuir a vantagem. Nani com muita experiência a esperar pelo tempo certo do passe e quando o fez, com Jardel a correr para trás, Bruno Fernandes atirou de primeira para um golo sem qualquer hipótese para Vlachodimos. Um grande golo daquele que foi de longe o melhor do conjunto verde e branco e o mais inconformado com a superioridade do Benfica durante toda a partida.
A segunda parte começou da melhor forma para o Benfica, com uma assistência de bola parada de Pizzi para Rúben Dias. O central saltou melhor que André Pinto e fez um bom movimento para outro golo onde Renan ficou colado ao solo. Grande finalização e novamente a vantagem a fixar-se em dois golos. O Sporting voltava por isso a estar mais pressionado e este golo madrugador não veio em nada ajudar a equipa visitada.
Aos 54’ Jardel esteve perto de fazer precisamente o que o seu companheiro de posição fez, marcando de cabeça a passe de Pizzi. O remate saiu ao lado, mas se assim não fosse, seria um golo feito com papel químico e a terceira assistência para Pizzi. Prova em como o Benfica não desistia de jogar futebol e marcar mais golos era a capacidade de que mesmo sem converter certas oportunidades, pouco depois tinha outras ocasiões de golo. Após este momento de Jardel, foram precisos apenas 2’ para o Benfica voltar a ter uma destas, marcando inclusive por Seferović. Rafa deu a Pizzi e este tentou bater Renan que defendeu para o lado, sendo aí que o suíço na recarga converteu. Golo anulado por fora-de-jogo, ainda assim. Mas não deixava de ser interessante como o Benfica nunca baixava linhas nem se escondia no seu jogo. Talvez pela mentalidade do treinador, talvez pela força dos adeptos que se faziam ouvir, talvez por tudo isso ou mais, o Benfica buscava sempre tirar partido da união coletiva e qualidade individual para marcar mais golos. Sentia-se a vontade de todos em fazer um resultado histórico.
O Sporting teve poucas ocasiões de real perigo na segunda parte, e quando assim é, é importante aproveitar as que se tem. Bas Dost aos 58’ teve a hipótese de diminuir novamente a vantagem, após cruzamento de Jefferson, mas cabeceou mal na bola. Momento raro de um atleta que é muito bom precisamente no jogo aéreo. Pouco depois foi Raphinha a quase brilhar em pleno José Alvalade, com um tiro de livre. A bola bate na parte exterior do poste e ainda que Vlachodimos tivesse o lance controlado, posicionalmente, não deixou de ser um dos momentos mais positivos da equipa de Marcel Keizer no segundo tempo.
O jogo entrava numa fase mais estratégica para os treinadores, e o ritmo havia até baixado, o que beneficiava apenas o Benfica que vencia por 1-3. E se perder por dois golos não era o que os adeptos leoninos esperavam, então pior ficaram quando Renan derrubou João Félix na área para depois Pizzi concretizar na grande penalidade assinalada pelo juiz. Lance claro, bem marcado. 2’ depois e o Benfica quase fez o 1-5, o que seria histórico nas últimas décadas. Numa jogada de 3 para 3, conduzida por Grimaldo e com Pizzi a cruzar rasteiro, não teve a conclusão esperada porque Seferović de primeira atirou ao poste e na recarga João Félix de baliza aberta atirou por cima. Perdida impressionante, mas depois de tudo o que fez, ninguém poderia acusar o ‘miúdo’ de nada.
No campo dos golos anulados o Sporting também tinha algo a dizer, porque teve o seu. Aos 79’, Diaby bateu o guarda-redes grego, mas estando em posição ilegal foi anulado pelo assistente de Artur Soares Dias. Com este lance a terminar no fundo das redes, já eram 8 o total de remates que deram em golo. Para encontrarmos um derby com tantos golos, imaginando que os anulados contariam, teríamos de recuar até às décadas onde isso era comum no futebol, portanto umas boas cinco ou seis.
Aos 82’ aconteceu então um dos lances capitais do encontro e também dos menos unânimes para sportinguistas e benfiquistas. Os jogadores do Benfica, com algum azar e aselhice, não conseguiram aliviar a bola para fora-da-área, por ter tocado nas costas de deles, e Bruno Gaspar aproveitou para fuzilar Vlachodimos que perante a força do remate não conseguiu agarrar e quando Bas Dost na recarga chega à bola, o árbitro entende que o holandês foi impedido de finalizar a sua tentativa de segunda recarga e por isso deu penalty para os leões, o nono da temporada.
O resultado final foi curto e não representou a diferença entre as duas equipas durante todo o jogo, mas mostrou aquilo que tem sido o Benfica e o Sporting nos últimos tempos. Do lado do Benfica, uma equipa em clara ascensão, com uma ideia de jogo muito clara e efetiva, e com jogadores confiantes. O Benfica depende apenas de si para se sagrar campeão pela 37.ª vez na sua História.


«o desafio será segurá-lo dos maiores clubes europeus»
Já ninguém tem dúvidas do talento de João Félix e se alguém tinha, impossível continuar depois da exibição que fez. Como tem sido habitual, o jovem jogador marcou, ganhou um penalty e deu espetáculo o jogo todo. Ainda marcou um golo que foi bem anulado, evitando talvez a primeira nota máxima de um Ovo Jogo. A continuar assim, o desafio para o Benfica não será tirar proveito de João Félix mas segurá-lo dos maiores clubes europeus.

OVO JOGO © JOÃO CHARRUA
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